Perplexa perante o comentário mesquinho que o jornalista Lasier Martins, da RBS, fez a respeito da ajuda humanitária do Brasil ao Haiti, faço minhas as palavras do Professor de Relações Internacionais da UFRGS, André Luiz Reis da Silva, quanto ao papel das nações na ajuda humanitária a nações como o Haiti, em momentos tão peculiares e tristes...
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2781882.xml&template=3898.dwt&edition=13937§ion=1012
Fonte: Jornal Zero Hora, 19 de janeiro de 2010.
A necessária solidariedade, por André Luiz Reis da Silva*
Como sabemos, uma tragédia se abateu sobre o Haiti. Além das décadas de ditadura e de conflitos, teve de enfrentar um rigoroso terremoto, que vitimou dezenas de milhares de pessoas e arruinou o país. Uma tragédia que, sem uma ação rápida e forte, tem todos os ingredientes para se transformar em uma catástrofe humana.O Brasil, já engajado no processo de paz no Haiti, respondeu imediatamente com envio de ajuda humanitária e será um dos líderes do processo de reconstrução do país. Entretanto, o que é uma mostra da vitalidade e solidariedade do governo e do povo brasileiros tem ensejado leituras distorcidas a respeito da ajuda internacional.Infelizmente, setores da imprensa ensaiaram um argumento acerca das respostas dadas pelo governo federal às tragédias que se abateram em vários pontos do Brasil em razão das enchentes provocadas pelas chuvas. Sobretudo os representantes da imprensa gaúcha em Brasília costumam utilizar signos e códigos farroupilhas que ainda estão flutuando no imaginário regional acerca das relações com o governo federal. Tal como no Império, estamos a pedir mais recursos, que não vêm na contrapartida do nosso trabalho e contribuição da nação. Assim, os nossos flagelados teriam sua ajuda desviada para um país distante.Entretanto, o argumento de que a ajuda internacional desvia necessários recursos internos de um país pobre é descabido. O Brasil não é um país pobre. O problema é a injustiça social e a desigualdade de renda, que se reflete na nossa cultura, nas nossas instituições e na nossa formação econômica.O Brasil vem crescendo diplomaticamente nos últimos anos, e o país está se constituindo um interlocutor cada vez mais requisitado nos fóruns internacionais. A ajuda brasileira é condizente com o papel que o Brasil vem tendo no sistema internacional. Todos os países que têm essa força e influência devem contribuir para a paz, a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento, tanto do ponto de vista político quanto econômico e, inclusive, militar. O Brasil tem uma responsabilidade maior que outros países sobre o Haiti, pois é o responsável pelas tropas que procuram construir a paz num país devastado pelos conflitos. Tem feito isso com dificuldades, mas foi, depois de diversas experiências, a missão da ONU mais bem-sucedida no Haiti.Há um grande risco de que a frágil estabilidade alcançada no Haiti se desestruture rapidamente, o que exigiria do Brasil e outros países um rápido aumento da ajuda e de contingentes militares. Os próprios militares que já atuam no Haiti ficariam em uma situação de vulnerabilidade, devido à instabilidade social e ao desvio de suas funções originais.Assim, a política externa brasileira está em consonância com o poder e a representatividade do Brasil no sistema internacional. E a isso devemos nos acostumar, depois de tanto tempo com uma baixa autoestima nacional. Cada vez mais a bandeira e a solidariedade do Brasil estarão presentes em lugares distantes geograficamente, mas muito próximos de nós nos sonhos e nas vicissitudes. Enfim, a mesquinharia comparativa não condiz nem com o próprio imaginário farroupilha, adepto do espírito solidário.
*Professor de Relações Internacionais da UFRGS
http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a2781882.xml&template=3898.dwt&edition=13937§ion=1012
Fonte: Jornal Zero Hora, 19 de janeiro de 2010.
A necessária solidariedade, por André Luiz Reis da Silva*
Como sabemos, uma tragédia se abateu sobre o Haiti. Além das décadas de ditadura e de conflitos, teve de enfrentar um rigoroso terremoto, que vitimou dezenas de milhares de pessoas e arruinou o país. Uma tragédia que, sem uma ação rápida e forte, tem todos os ingredientes para se transformar em uma catástrofe humana.O Brasil, já engajado no processo de paz no Haiti, respondeu imediatamente com envio de ajuda humanitária e será um dos líderes do processo de reconstrução do país. Entretanto, o que é uma mostra da vitalidade e solidariedade do governo e do povo brasileiros tem ensejado leituras distorcidas a respeito da ajuda internacional.Infelizmente, setores da imprensa ensaiaram um argumento acerca das respostas dadas pelo governo federal às tragédias que se abateram em vários pontos do Brasil em razão das enchentes provocadas pelas chuvas. Sobretudo os representantes da imprensa gaúcha em Brasília costumam utilizar signos e códigos farroupilhas que ainda estão flutuando no imaginário regional acerca das relações com o governo federal. Tal como no Império, estamos a pedir mais recursos, que não vêm na contrapartida do nosso trabalho e contribuição da nação. Assim, os nossos flagelados teriam sua ajuda desviada para um país distante.Entretanto, o argumento de que a ajuda internacional desvia necessários recursos internos de um país pobre é descabido. O Brasil não é um país pobre. O problema é a injustiça social e a desigualdade de renda, que se reflete na nossa cultura, nas nossas instituições e na nossa formação econômica.O Brasil vem crescendo diplomaticamente nos últimos anos, e o país está se constituindo um interlocutor cada vez mais requisitado nos fóruns internacionais. A ajuda brasileira é condizente com o papel que o Brasil vem tendo no sistema internacional. Todos os países que têm essa força e influência devem contribuir para a paz, a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento, tanto do ponto de vista político quanto econômico e, inclusive, militar. O Brasil tem uma responsabilidade maior que outros países sobre o Haiti, pois é o responsável pelas tropas que procuram construir a paz num país devastado pelos conflitos. Tem feito isso com dificuldades, mas foi, depois de diversas experiências, a missão da ONU mais bem-sucedida no Haiti.Há um grande risco de que a frágil estabilidade alcançada no Haiti se desestruture rapidamente, o que exigiria do Brasil e outros países um rápido aumento da ajuda e de contingentes militares. Os próprios militares que já atuam no Haiti ficariam em uma situação de vulnerabilidade, devido à instabilidade social e ao desvio de suas funções originais.Assim, a política externa brasileira está em consonância com o poder e a representatividade do Brasil no sistema internacional. E a isso devemos nos acostumar, depois de tanto tempo com uma baixa autoestima nacional. Cada vez mais a bandeira e a solidariedade do Brasil estarão presentes em lugares distantes geograficamente, mas muito próximos de nós nos sonhos e nas vicissitudes. Enfim, a mesquinharia comparativa não condiz nem com o próprio imaginário farroupilha, adepto do espírito solidário.
*Professor de Relações Internacionais da UFRGS
**foto: fonte: http://www.icrc.org/Web/por/sitepor0.nsf/html/haiti-photos
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